Concreto submerso: como construir com segurança embaixo d’água

O concreto submerso permite construir pilares de pontes, barragens, contenções e fundações mesmo com água presente, seja doce ou salgada. Esse tipo de concreto exige cuidados especiais na dosagem, no lançamento e no controle da obra, porque o contato com a água aumenta o risco de segregação, lavagem da pasta e perda de resistência.​

O que é concreto submerso e onde se usa

Este material é uma mistura especialmente dosada para apresentar alta coesão e fluidez, permitindo que seja lançado diretamente dentro da água sem que seus componentes se desagreguem. É a solução técnica ideal para fundações de pontes, estruturas portuárias e reparos em barragens onde o uso do concreto submerso é indispensável devido à impossibilidade de secar o local.
Definição e Cenários de Aplicação

O concreto submerso é o concreto lançado ou injetado em ambientes com presença constante de água, como rios, mares, lagos ou lençóis freáticos. Em outras palavras, a concretagem ocorre dentro d’água, sem esvaziar totalmente o local ou sem afastar a lâmina d’água da estrutura.​

  • Esse tipo de concreto se aplica em estruturas marítimas e fluviais, como docas, cais, molhes, pontes, represas e muros de contenção.​
  • Além disso, a técnica aparece em tubulões, estacas escavadas, reparos subaquáticos em barragens, pilares de pontes e até em algumas piscinas especiais.​

Como essas estruturas sofrem ataque químico e físico constante, o concreto submerso precisa garantir alta durabilidade e manter suas propriedades mesmo em ambiente agressivo.​

Principais características do concreto submerso

Antes de qualquer lançamento, a equipe precisa entender bem o ambiente em que o concreto vai trabalhar. Por isso, o primeiro passo inclui sondagens do solo submerso e análise do tipo de água (doce ou salgada) e do nível de agressividade.​

  • Em ambientes marinhos, a norma classifica a agressividade como nível IV (máxima), o que exige um concreto muito mais resistente à corrosão e ao ataque químico.​
  • A mistura não pode se dispersar na água nem se misturar ao solo, pois isso reduz a resistência, aumenta a permeabilidade e ainda pode causar contaminação ambiental.​

Nesse contexto, o concreto submerso precisa apresentar coesão elevada, trabalhabilidade adequada e consistência bem controlada, normalmente verificada por meio do ensaio de abatimento (slump).​

Cimento, finos e aditivos mais indicados

Para garantir que a mistura funcione corretamente embaixo d'água, é necessário um traço rico, geralmente com alto consumo de cimento e a inclusão de adições minerais finas, como sílica ativa ou fíler. Além disso, o uso de aditivos superplastificantes e agentes modificadores de viscosidade é crucial para obter a fluidez necessária sem perder a coesão.
Materiais Essenciais para a Dosagem

Para resistir melhor em ambientes agressivos, o concreto submerso usa cimentos especiais e alta quantidade de materiais finos.​

  • A recomendação técnica prioriza cimentos resistentes a sulfatos, identificados pela sigla RS na nomenclatura, como CP V ARI RS e CP III 40 RS.​
  • Além disso, a mistura recebe materiais finos como metacaulim, sílica ativa, filer calcário e areia fina, que aumentam a coesão e reduzem a segregação.​
  • Em muitos casos, o concreto se torna autoadensável, com elevado teor de finos e uso de aditivos superplastificantes e modificadores de viscosidade, o que facilita o adensamento sem vibração.​

Outro ponto essencial consiste em controlar o fator água/cimento (a/c), que costuma ficar ≤ 0,45 em concretos submersos lançados por tremonha, para reduzir porosidade e aumentar durabilidade.​

Métodos de execução do concreto submerso

Para que o concreto não se misture com a água, não basta apenas “jogar” o traço dentro do elemento. É preciso adotar métodos de lançamento que controlem o contato com a água e garantam enchimento uniforme, de baixo para cima.​

Método da tremonha

A tremonha é um dos métodos mais conhecidos de concretagem submersa. Ela funciona como uma tubulação em formato de pirâmide invertida, que conduz o concreto até a parte inferior da fôrma.​

  • O preenchimento ocorre de baixo para cima, evitando que o concreto caia através da água e se desagregue.​
  • As fôrmas podem ser de madeira ou metálicas; a madeira se remove após a cura, enquanto a metálica pode permanecer como parte da estrutura, como em pilares de cais.​

Esse procedimento reduz o arraste de pasta de cimento pela água e melhora o desempenho da concretagem em fundações profundas, pilares e blocos submersos.​

Concretagem injetada

Outra técnica importante é a concretagem injetada, usada tanto em novas estruturas quanto em reparos subaquáticos. Nesse método:​

  • As fôrmas recebem previamente britas e ferragens, formando um esqueleto granular.​
  • Em seguida, a equipe injeta nata de cimento sob pressão nos vazios entre as britas, preenchendo o volume da peça.​

Esse método aparece muito na recuperação de estacas danificadas por salinidade ou movimento das águas, pois melhora a aderência e recompõe seções comprometidas.​

Lama bentonítica e camisa metálica

Na execução de fundações profundas na presença de água, a lama bentonítica é injetada para criar uma pressão hidrostática que impede o desmoronamento das paredes da escavação. Já a camisa metálica (tubulão de aço) serve como guia inicial e proteção superior, garantindo que o furo permaneça íntegro para receber o concreto submerso.
Técnicas de Estabilização e Contenção do Solo

Em fundações profundas e estacas escavadas, outro caminho passa pela lama bentonítica.​

  • Primeiro, a obra preenche o fuste da estaca com lama bentonítica, que tem densidade maior que a água e menor que o concreto.​
  • Depois, o concreto sobe de baixo para cima, deslocando a lama sem se misturar com a água, desde que o lançamento ocorra de forma contínua e controlada.​

Já a camisa metálica pode funcionar tanto como fôrma quanto como barreira para a água.​

  • Em obras menores, a equipe costuma bombear a água para fora da camisa e concretar em ambiente quase seco.​
  • Em grandes obras, com fortes vazões de água, o concreto submerso volta a ser lançado dentro d’água, usando tremonha, mas a camisa mantém o contorno da peça.​

Em todos os casos, o sucesso da concretagem depende de traços bem desenvolvidos, aditivos adequados e controle rigoroso do processo.​

Cuidados essenciais com o concreto submerso

O cuidado mais importante durante o lançamento é garantir que a ponta inferior do tubo tremonha (funil de lançamento) permaneça sempre enterrada na massa recém-depositada. Isso impede que a água circundante entre em contato com o material fresco, evitando a lavagem do cimento e a segregação dos agregados, garantindo a qualidade final da estrutura.
Pontos Críticos Durante a Execução

Construir embaixo d’água exige uma combinação de engenharia, planejamento e disciplina de obra. Alguns cuidados se tornam indispensáveis para evitar patologias e riscos ambientais.​

  • A equipe deve sempre analisar o solo submerso por meio de sondagens a percussão ou rotativas, entendendo resistência, estratigrafia e presença de materiais moles.​
  • O concreto lançado por tremonha precisa ter alta plasticidade, ser autoadensável e respeitar o fator a/c máximo especificado.​
  • O uso de mergulhadores em determinadas etapas aumenta a segurança, ajuda a monitorar vazamentos e reduz a chance de contaminação da água.​
  • O controle do tempo de lançamento e injeção impede juntas frias e garante preenchimento completo de estacas, blocos e tubulões.​

Além disso, a escolha de fornecedores especializados em concretos especiais submersos ajuda a evitar falhas de dosagem e problemas de desempenho no longo prazo.​

Vantagens e desafios do concreto submerso

O concreto submerso não surgiu para complicar a vida do engenheiro, mas sim para viabilizar obras que impactam diretamente a infraestrutura do país. Com ele, projetos de pontes, barragens, quebra-mares e contenções se tornam possíveis mesmo em ambientes com água permanente.​

  • A técnica permite executar fundações, muros e reparos sem drenar totalmente o local, o que economiza tempo e, em certos casos, reduz custo de bombeamento.​
  • Além disso, quando bem especificado, o concreto submerso oferece excelente desempenho em durabilidade, resistindo à salinidade, à variação de temperatura e ao ataque químico.​

Por outro lado, o método também traz desafios claros:

  • Exige traços específicos, com desenvolvimento prévio em laboratório, para evitar segregação e perda de resistência.​
  • Depende de equipes treinadas, controle rigoroso da concretagem e integração entre projetistas, fornecedores e construtores.​
  • Qualquer erro de procedimento ganha proporções maiores, já que corrigir uma estrutura submersa é mais caro e complexo.​

Mesmo assim, com responsabilidade técnica e bom planejamento, o concreto submerso se torna uma ferramenta poderosa na engenharia de fundações e obras hidráulicas.​

Concreto submerso na prática: aplicações mais comuns

Na prática da engenharia civil pesada, esta tecnologia é visível na construção de grandes pilares de viadutos sobre rios, na execução de paredes diafragma para contenção de subsolos com lençol freático alto, na construção de cais e em reforços estruturais de plataformas de petróleo, demonstrando a versatilidade do concreto submerso.
Exemplos Reais de Utilização na Infraestrutura

Na prática de canteiro, o concreto submerso aparece em diferentes situações de projeto. Em todas elas, o objetivo consiste em garantir estabilidade estrutural e durabilidade, mesmo com a presença constante de água.​

  • Pilares de pontes: concretagem de blocos de coroamento, estacas e fustes em rios com vazão significativa.​
  • Barragens e estruturas de contenção: execução de paredes-diafragma, muros e lajes submersas que controlam o fluxo de água.​
  • Quebra-mares e estruturas marítimas: proteção de portos, cais e molhes contra ondas e ação marítima.​
  • Obras emergenciais contra enchentes: execução rápida de barreiras e contenções em áreas alagadas.​
  • Reparos subaquáticos: recuperação de estruturas danificadas por corrosão, lavagem ou movimento das águas.​

Esse conjunto de aplicações mostra que o concreto submerso não é um nicho isolado, mas sim parte fundamental da infraestrutura em regiões costeiras e fluviais.​

Conclusão: concreto submerso como solução estratégica em obras com água

Quando alguém atravessa uma ponte, observa uma barragem ou caminha em um cais, raramente pensa em como o concreto chegou até ali, debaixo d’água. No entanto, por trás dessas estruturas existe um trabalho minucioso de sondagem, dosagem, escolha do método de lançamento e controle da execução.​

Com traços bem planejados, uso de cimentos RS, alto teor de finos, aditivos adequados e métodos como tremonha, injeção ou lama bentonítica, o concreto submerso garante resistência, durabilidade e segurança em ambientes extremamente agressivos. Assim, a técnica não apenas resolve um problema de construção, mas também amplia as fronteiras da engenharia civil, permitindo obras cada vez mais desafiadoras em contato direto com a água.​

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